Jornadas
Passeios na Tapada

Durante a pandemia a Tapada da Ajuda e os seus caminhos e estradas foram renovados numa parceria com a CMLisboa e ficaram acessíveis a bicicletas e peões. 

Durante as Jornadas dos 80 anos de ensino da arquitetura paisagista iremos festejar a Tapada como local único na cidade de Lisboa em que a natureza foi preservada e onde o campus do Instituto Superior de Agronomia respeitou sempre o terreno agrícola e florestal que se mantém nos 100 hectares cercados que foram, no seculo XVII, terreno de caça dos Reis e são hoje terreno de estudo e educação ambiental da população.

1 – A Tapada da Ajuda e os seus séculos de história

A Tapada da Ajuda é um espaço único em Lisboa que manteve nos seus 100 hectares que ocupa um carácter natural, agrícola e florestal até aos dias de hoje. Tem atualmente uma área de aproximadamente 100 hectares e os vestígios neolíticos e a ecrópole romana uma ocupação desde a pré-história.

Foi utilizada pela dinastia filipina (1581-1640) como parque de caça completando o Paço de Alcântara de Filipe II, e em 1645 D. João IV decretou por escritura a criação de uma Tapada murada, sendo-lhe atribuído o nome de Tapada Real de Alcântara. Espaço de criação de gado e de caça, de produção de lenha, este era o local escolhido em Lisboa para as estadias da família real e para a caça. Após o terramoto de 1755, a corte mudou a sua residência para o Alto da Ajuda, passando a tapada a denominar-se Tapada Real da Ajuda. As águas subterrâneas da Tapada, conduzidas e captadas através das suas minas de água, abasteciam não só o Palácio da Ajuda como os seus terrenos agrícolas.

2 – Pavilhão de Exposições

Edifício de ferro e de vidro, da autoria do arquiteto Pedro d’Ávila, foi inaugurado em 1884 pelo rei D. Luís I, sendo considerado um dos ex-libris da Tapada. Construído para a III Exposição Agrícola de Lisboa, procurou «ombrear com os seus pares» da arquitetura do ferro a nível nacional, nomeadamente com o Palácio de Cristal do Porto (1865), ou a nível internacional, com o Palácio de Cristal de Hyde Park de Londres (1851) e o Trocadéro de Paris (1878).

Ladeando simetricamente o pavilhão, encontram-se dois chalés típicos da época. A nascente a Vacaria, com um relógio no tímpano e campanário. A poente a Abegoaria, igualmente com um campanário contendo um barómetro, local onde se encontrava o gado equino. Em 1889, é construído o chalé para residência do almoxarife-chefe, o qual se tornou posteriormente a residência do diretor do ISA.

Em 1910, com a implantação da República, a Tapada foi entregue ao Instituto Superior de Agronomia (ISA) «para instrução dos agricultores ou de quaisquer outros visitantes, bem como para a lição de coisas às crianças e alunos de todas as escolas».

Em 1994 o Conselho Diretivo do ISA, dirigido pelo Prof. Francisco Castro Rego submeteu ao IPPAR (Instituto de Português do Património Arqueológico) o dossier de submissão para a classificação como Paisagem Cultural em reconhecimento do alto valor patrimonial da Tapada da Ajuda. A iniciativa partia em defesa da Tapada contra uma ameaça de construção da Via de Meio Encosta prevista no Plano Diretor Municipal dos anos 90. O dossier preparado pela Prof. Arquiteta Paisagista Cristina Castel-Branco conduziu à classificação da Tapada em 2002 como Imóvel de Interesse Público (conjunto intramuros) encontrando-se sob um regime de proteção de acordo com o Decreto n.º 5/2002, Diário da República n.º 42 de 19 fevereiro de 2002. Esta classificação levou a que a Tapada ficasse protegida de qualquer construção garantindo numa grande área dentro dos seus muros um carácter natural raro e único no perímetro urbano de Lisboa.

Em 2010, o ISA comemorou 100 anos de existência, oferecendo um ensino e investigação de excelência nas áreas de agronomia, silvicultura, arquitetura paisagista engenharia alimentar biologia, zootécnica e engenharia ambiental.

3 - Os jardins dentro da Tapada

O Jardim da Rainha, dedicado à rainha Santa Isabel e ao Milagre das Rosas oferece uma paragem no percurso de passeio pela Tapada e a história da Rainha em três bancos de azulejos com pinturas alusivas ao tema fabricados pela Cerâmica Lusitânia de Lisboa, datados de 23 de maio de 1940. O busto central no jardim celebra a memória do engenheiro agrónomo João Coelho da Motta Prego, que desenvolveu as tecnologias extrativas de óleos a nível industrial.

A presença de um exemplar de Jubaea chilensis é vestígio do gosto pela coleção de plantas exóticas. A Jubaea chilensis (Molina) Baill. da Família das Arecaceae tem como nome comum: palmeira-do-chile e foi descrita por Charles Darwin como «uma árvore muito feia», mas é de facto uma das palmeiras mais belas do mundo. O seu tronco cinza-escuro pode chegar aos 30 metros e atingir um diâmetro igual ou superior a 1 metro. O exemplar do Jardim da Rainha tem 9,6 metros de altura, é nativa do Chile e amplamente cultivada em regiões quentes temperadas do mundo como espécie ornamental. Da sua seiva rica em açúcares, quando fervida, obtém-se o mel de palma, se fermentada, pode ser feito vinho de palma. A espécie está classificada como vulnerável no Livro Vermelho da IUCN (International Union for Conservation of Nature), sendo por isso um precioso espécime da Tapada da Ajuda.

O Jardim da Parada, dedicado às paradas militares da guarda da rainha durante o reinado de D. Maria I (1777-1816) manteve o nome apesar de se tratar de um jardim paisagista do seculo XIX renovado na altura da construção do Pavilhão de exposições, logo acima. Pinheiros, eucaliptos, freixos e zambujeiros de grande porte coabitam este espaço de grande conforto em plena natureza. Vários caminhos ladeados por arvoredo escondem quatro pequenos lagos, um labirinto, um parque de merendas e um roseiral.

4 – Terra Grande, espaço nobre para a agricultura

A história da tapada pode dividir-se em três períodos: o primeiro (1850-1880) com a construção do observatório astronómico em 1861; o segundo (1881-1910), assinalado pela III Exposição Agrícola de 1884; e um terceiro pela instalação do Instituto Superior de Agronomia – ISA desde 1911.

O observatório astronómico situa-se no cimo da Terra Grande, tendo sido mandado construir em 1850, no reinado de D. Pedro V, por sugestão do astrónomo francês Hervé Faye.

Em 1910 a passagem da tapada e do Jardim Botânico da Ajuda para a tutela do ISA, levou à criação da Terra Grande com o objetivo de garantir terrenos à escola de Agronomia. Houve que arrotear algumas áreas, limpando, desmatando e preparando-as para o cultivo. Assim se constituiu a “Terra Grande”, com cerca de 5 hectares, «uma das melhores terras de semeadura” da Tapada, senão de Lisboa, e mantendo sempre a sua utilização inicial como terreno de prática e produção agrícola para os alunos.

5 – Anfiteatro em pedra e jardins envolventes.

Em 1943, é construído o anfiteatro, projetado pelo professor Francisco Caldeira Cabral, fundador do curso de Arquitetura paisagista no ISA em 1942 e pioneiro da introdução da arquitetura paisagista do nosso país. Foi inaugurado aquando do I Congresso de Ciências Agrárias e destinava-se a três tipos de eventos: conferências e debates; representações de teatro e bailado e espetáculos musicais. Na época, «tratando-se de um teatro ao ar livre optou-se por um carácter marcadamente vegetal como envolvência do palco» e reforçaram-se as plantações já existentes. A construção dos pilares da ponte sobre o Tejo e o ruído que decorre dessa permanente presença inviabilizou o seu uso como anfiteatro para espetáculos ao ar livre.

O jardim que envolve o anfiteatro e o precedeu no tempo é um projeto de paisagístico que reflete o gosto das coleções de árvores, contendo espécies vegetais autóctones e exóticas. A sul um núcleo de palmeiras onde se salienta a Brahea armata S. Watson e a Livistona chinensis (Jacq.) R. Br. ex Mart. ao centro e da Macaronésia salienta-se a Dracaena draco (L.) L. (dragoeiro), e da flora continental, o Fraxinus angustifolia Vahl. (freixo), a Olea europaea L. subsp. europaea var. sylvestris (Mill.) Lehr. (zambujeiro), o Laurus nobilis L. (loureiro) e a Ceratonia siliqua L. (alfarrobeira).

 

 

Adaptado para as Jornadas dos 80 anos de Ensino de Arquitetura Paisagista. a partir do texto de Ana Luísa Soares, Carla Faria, Conceição Colaço, Lisboa 2013 (sinalética para a Tapada)

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